Publicado em: 19/08/2022
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Projeto Voar recebe a primeira visita dos técnicos do Semente 

Os proponentes apresentaram as técnicas utilizadas para que as aves aprendam a viver no habitat natural, já que a maioria delas passou a maior parte do tempo em cativeiros e nunca teve contato com a natureza

Treino antipredação, treino de voo, treino alimentar, teste de personalidade e análise comportamental - tudo milimetricamente avaliado por meio de técnicas para a soltura e monitoramento de 31 psitacídeos silvestres resgatados em cativeiros clandestinos, vítimas de maus tratos. Em outras palavras, as aves resgatadas passam por treinamento e são devolvidas para a natureza, de onde nunca deveriam ter saído. 

Esse é o principal objetivo do “Projeto Voar – desenvolvimento de técnicas para o retorno à natureza do psitacídeo mais capturado do mundo, o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Destaca-se que as aves são recebidas pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Belo Horizonte. 

A proposta foi inscrita na plataforma Semente pelo Instituto de Pesquisa e Conservação Waita e contemplada em cumprimento da cláusula 3.4 do Termo de Compromisso celebrado nos autos dos inquéritos civis 0319.13.000107-5, 0319.18.0000.28-7 e 0319.20.000345-1, em dezembro de 2021.

Coloridas, animadas e barulhentas, são várias as aves que fazem parte da família dos psitacídeos e as mais conhecidas são as araras, os papagaios, as cacatuas, os periquitos australianos, os periquitos verdes, as calopsitas, as maritacas, as marianinhas, dentre outras. Elas possuem a cabeça robusta e larga para sustentar o bico, que é curvo, forte para quebrar e descascar sementes, alimentos como amêndoas, castanhas e coco.

 

  

Os papagaios são observados por pequenos orifícios feitos nas lonas que cobrem os viveiros. São bastante curiosos.  

 

Os psitacídeos pertencem à ordem psittaciforme que, conforme levantamentos realizados em 2019, é composta por 398 espécies, reunidas em quatro famílias, Strigopidae, Cacatuidae, Psittaculidae e Psittacidae.

Nesta quinta-feira (18/08), a equipe Semente esteve em uma fazenda, em Vera Cruz de Minas, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde ficam os viveiros que abrigam os 31 papagaios-verdadeiros, os psitacídeos foco do projeto - em treinamento. 

“Essa é a primeira visita técnica que estamos fazendo no que diz respeito ao monitoramento do Projeto Voar e  achamos muito interessantes as técnicas utilizadas para que as aves aprendam a viver no habitat natural, já que a maioria delas passou a maior parte do tempo em cativeiros e nunca teve contato com a natureza”, destaca Renata Fonseca, Supervisora do Semente.

 

 

Sete profissionais multidisciplinares atuam no projeto. Três deles são voluntários. “Atuar em ações para a reabilitação de animais não é tarefa fácil . Ver que grande parte da equipe é realizada por voluntários enche o nosso coração de alegria e agrega valor ao trabalho ”, conclui Renata Fonseca.

De acordo com a coordenadora técnica do projeto, Ariela Castelli Celeste, os papagaios receberão os treinamentos durante três ou quatro meses. “As aves recebem os treinamentos quatro vezes por semana e, por meio das atividades, conseguimos avaliar as reações de cada papagaio, como respondem aos desafios e aos estímulos, passando, inclusive, por testes comportamentais”, afirma. 

Ainda conforme Ariela, antes de iniciar os treinamentos, os animais passam por uma triagem - avaliação física e sanitária - para definição de quais possuem condições de integrar o grupo abrigado nos viveiros. 

 

AS TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO

 

Todos os papagaios são identificados com duas anilhas - uma de um órgão ambiental e outra colocada pelo Instituto Waita. As do instituto são de cores variadas, e após a soltura dos papagaios, servirão para o monitoramento a fim de que cada um possa ser identificado e avaliado isoladamente. 

As ações são gravadas por quatro câmeras, instaladas em cada lado do viveiro que é fechado com uma lona para que os papagaios não percebam que são executadas por humanos. 

Antipredação - Para evitar que as aves sejam capturadas por predadores assim que devolvidas à natureza, é realizado o treino antipredação. Em um primeiro momento, os técnicos organizam o viveiro, colocando galhos para que os papagaios possam se esconder do predador. 

 

 

“A gente entra no viveiro usando uma cobertura para que eles (papagaios) não percebam que somos nós os responsáveis pelas adversidades aplicadas nos treinamentos. Um cachorro, um gato e uma ave de rapina são os predadores que nos auxiliam neste processo. Antes da aparição do predador, o técnico se veste com a fantasia do pânico, realiza a perseguição após a primeira aparição do predador e, em seguida, o predador é mostrado novamente, para que os papagaios memorizem a silhueta dos animais de forma que associem ao perigo e fujam quando encontrar semelhantes na natureza”, detalha Ariela Castelli. 

Voo - Os papagaios passaram a maior parte da vida presos, em cativeiros e não aprenderam a voar. Para que possam sobreviver no habitat natural é necessário que voem com agilidade para fugir dos predadores, se deslocarem em bando e buscarem alimentos. “Nesta etapa, os técnicos não usam mais disfarce. Duas pessoas entram no viveiro. Um usa uma rede de captura e estimula os psitacídeos a voarem e o outro faz gravação de voz, descrevendo o como os papagaios reagem”, explica.

Alimentar - Quando ficam em cativeiros, as aves não se habituam aos alimentos disponíveis na natureza e, para que deixem de associar a alimentação a um lugar fixo e a alguém que serve, eles passam pelo treinamento alimentar. O objetivo é estimular a busca por alimentos. “Para isso usamos o enriquecimento ambiental do tipo alimentar por meio do qual disponibilizamos diversos tipos de alimentos, em diferentes lugares do viveiro e em horários variados. Usamos materiais diferentes, comidas diferentes, com variados formatos e texturas, sempre estimulando a procura”, afirma. 

Teste de Personalidade - É uma das primeiras análises feitas no projeto para entender aspectos de personalidade relacionados a timidez e a coragem. "Nesta avaliação, aplicamos o teste de objeto novo. Apresentamos um objeto que supomos que nunca tiveram contato anteriormente. Anotamos as reações para saber se interagem com o objeto, por quanto tempo interagem e, a partir disso, recebem notas que vão determinar o grau de timidez e coragem das aves”, detalha Ariela Castelli. 

Ainda conforme a coordenadora, o projeto investiga se os animais mais corajosos se expõem mais a riscos e os benefícios que possam obter com isso, como mais chances de acasalamento ou de encontrar alimento em lugares mais distantes, por exemplo. Investiga, também, se os mais tímidos, ao não se arriscarem, podem viver por mais tempo que os corajosos. “Tudo isso será avaliado durante o monitoramento pós soltura por meio do qual vamos saber quais papagaios viveram mais tempo, quais se reproduziram e quais foram mais longe, o que poderá definir critérios para as novas solturas”, conclui Ariela Castelli.

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